Páginas

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Microcosmo

.

Escrevo versos com a luz.
Acostumei-me a observar o microcosmo.
Nas aulas de geometria espacial,
observava a disposição das folhas das árvores
que se mostravam à janela;
Nas aulas de geografia
pensava nas mazelas provocadas aos gorilas do congo:
caçados e sem floresta.
Enquanto alguém tentava chorar no meu ombro,
atentamente eu olhava
a trilha das formigas que passavam atarefadas
por baixo do banco em que me sentava.
Quando recebia do patrão uma longa lista de tarefas diárias,
logo imaginava:
qualquer coisa que fosse,
o que ele estivesse falando neste momento,
iria fazer de uma vez, e bem rápido.
Ou não...
o importante mesmo
era pegar aquele raio de sol que me chamava pela fresta da persiana do escritório
antes que fosse embora,
levando consigo todas as cores e detalhes que a minha íris captava.
E o resultado disso tudo é que
nunca consegui entender bem a disposição das folhas,
nem tão pouco alterá-las (não queria mesmo)...
Ainda não fui até o congo ver como estão os gorilas;
e nunca piso numa trilha de formigas;
Mas o sol...Ah, esse não me escapa mais.
Torno eterno as coisas que ele me mostra;
pego seus raios como quem agarra a cauda do cometa;
escrevo no papel fotográfico
como quem empunha um bico de pena;
Transformo cores e suas sutilezas em versos visuais;
E as pessoas me perguntam:
- Como podes ver assim?
respondo então:
- É simples... não seja, não faça,
Apenas se entregue à saborosa distração
das coisas não usuais...
J.C.

Nenhum comentário:

Postagens populares